segunda-feira, 1 de junho de 2009

meditações


Estou relendo Sexus, de Henry Miller. Constatei que não lembro bem a primeira vez que li. E na verdade nem tinha chegado ao fim, mesmo gostando muito do escritor. Sempre o olhei na estante sabendo que um dia o leria, sem preocupação de quando exatamente. Pois não é que justo nesse momento, tão especial e específico na vida que é a chegada da primeira filha, me veio às mãos o dito. No início me perguntei inclusive se era mesmo o momento de compartilhar com Miller de suas muitas buscas de expressão e liberdade, sua profusão de idéias, de instintos, de rupturas... achei inicialmente que seria uma experiência um tanto áspera, e um pouco forçosa a tentativa de conciliar com o frescor e a beleza pura de uma criança linda começando a vida. Me enganei. Miller, muito mais do que nos conduzir por estímulos eróticos, que ele também faz, e faz bem, nos propõe muitas meditações que naturalmente brotam de suas páginas entre tantos e tão sinceros relatos de suas experiências.

Coisas do tipo: A pessoa realmente séria é jovial, quase despreocupada. E eu desprezava as pessoas que, por carecerem de lastro próprio, carregavam o peso dos problemas do mundo. O homem que vive preocupado com a condição humana ou não tem problemas próprios ou se recusa a enfrentá-los. Estou falando da grande maioria, não dos raros emancipados que, depois de muito refletir sobre tudo, tem o privilégio de identificar-se com toda a humanidade e, assim, desfrutar o maior de todos os luxos: servir.

Ou num outro momento em que é arrebatado pela expressão de felicidade de um homem que de forma inusitada externa seu amor à mulher: Desconfiamos do que é estável e bem ancorado, do que se mostra impermeável a nossas lisonjas, à nossa lógica, à nossa ruminação coletivizada de princípios, às nossas formas antiquadas de lealdade.
Um pouco mais de felicidade, pensei comigo enquanto escutava as palavras do rapaz, e ele se transformaria no que se chama de um homem perigoso. Perigoso por que ser feliz o tempo todo seria atear fogo ao mundo.Fazer o mundo rir é uma coisa; torna-lo feliz é uma coisa muito diferente.

Finalizando esse post transcrevo algumas partes das meditações de Henry Valentine( curioso esse sobrenome, não?) Miller sobre o impulso e o fazer artísticos.
O indivíduo criativo (ao engalfinhar-se com seu meio de expressão) deveria experimentar uma alegria que pelo menos contrabalance, quando não supere, a dor e a angustia que acompanham a luta para se expressar.
É só na medida que ele percebe mais vida, a vida abundante, que se pode dizer que vive em sua obra. Se não houver essa percepção, não haverá sentido ou vontade em substituir a vida puramente aventurosa da realidade pela vida imaginativa.
... o grande segredo jamais será apreendido, mas incorporado em sua própria substância. Precisa tornar-se parte do mistério, viver não só com o mistério mas também no próprio mistério. A aceitação é a resposta: ela é uma arte, e não um desempenho egoísta por parte do intelecto.

3 comentários:

  1. Velho, gostei tanto dessas citações que tô deixando seu blog pendurado aqui, pra ler de vez em quando essas citações. Muita coisa legal pra conseguir meditar sobre numa lida só.

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  2. Já leu o cubano Pedro Juan Gutiérrez? Ganhei de presente de dia dos namorados "Trilogia Suja de Havana", um dos livros do seu Ciclo do Centro de Havana (são cinco, no total). Muito bom, se gosta de Henry Miller acho que vai adorar. Só consigo parar de ler quando sou obrigada pelos motivos de força maior que você conhece bem também conhecidos como pendências do mestrado haha. Assim que terminar vou comprar algum outro livro dele para continuar a leitura.

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  3. Sim, sim, conheço. Adorei ler Trilogia. Assisti também a palestra dele aqui em Salvador. Ele é realmente um cara interessante...

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